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Familiares das vítimas encerram vigília em Santa Maria após condenação de réus no julgamento da boate Kiss

O fim do julgamento que condenou os quatro réus do incêndio da boate Kiss pela morte de 242 pessoas trouxe alívio e uma chance de recomeço para as famílias e a comunidade de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul.

Após quase nove anos de espera, o resultado do Tribunal do Júri no Foro Central de Porto Alegre encerrou a vigília e abriu um novo momento: a luta por mais segurança em estabelecimentos como este.

“Sinto que a gente precisa agora levantar outras bandeiras, que é trabalhar para que nunca mais se repita”, diz Ogier Rosado, pai de uma das vítimas.

A decisão da Justiça, mesmo sendo considerada importante para o desfecho do caso, não é capaz de apagar as lembranças da tragédia. Em Santa Maria, quase todo mundo conhecia alguém que estava na boate na madrugada de 27 de janeiro de 2013.

“Todo mundo, querendo ou não, tinha alguma ligação, seja com algum familiar, amigo. Foi uma tragédia que aconteceu naquele dia e marcou e vai marcar para sempre”, afirma o estudante de Medicina Eduardo Polinario Fumagalli.

“Traz paz um pouco no coração. Acredito que nossa luta daqui pra frente seja para que não aconteça, para que não se repita, para que jovens saiam e voltem pros seus pais. Continuo na luta para que as pessoas que morreram não sejam esquecidas”, disse Kellen Giovana Ferreira, uma das sobreviventes que também testemunhou no júri.

Cada gesto, com o fim do julgamento, é como se um ciclo fosse encerrado. A psicóloga Caroline Rodrigues, professora de Psicologia da UFRGS, explica que o processo judicial é muito importante quando se trata de perdas por mortes violentas.

“A gente entende que o luto está muito atrelado a esse processo judicial. No momento em que o processo judicial vai dando um caminho de fechamento, isso também facilita que os enlutados consigam trazer um fechamento, um significado para essas perdas. Facilita o processo de luto”, afirma.

“Nós perdemos um troféu, mas pode ter certeza que ganhamos uma família. A gente chora junto”, acredita Darci Andreatta, pai de Ariel, uma das vítimas.

Em entrevista ao Jornal do Almoço deste sábado (11), o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Flávio Silva, pai de Andrielle, resumiu o sentimento de muitos pais.

“Esse resultado desse julgamento não vai trazer a minha filha, não vai trazer o filho de ninguém de volta. Mas isso nos garante que a gente, a partir de hoje, entende que essas vidas vão ser mais valorizadas, inclusive por esses empresários da noite, que criam essas casas noturnas. A gente espera que esse processo, ao qual nós acabamos de passar, se reflita na prevenção e na valorização da vida”, define.

Como foi o julgamento

Elissandro Callegaro Spohr, Mauro Londero Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão foram condenados de 18 a mais de 22 anos de prisão.

Porém, após a concessão de um habeas corpus pelo desembargador Manuel José Martinez Lucas a Kiko, e estendido aos outros réus, eles passam a recorrer da decisão em liberdade. Na noite de sexta (10), o Ministério Público afirmou que irá recorrer do habeas corpus(Veja abaixo o que disseram as partes)

“Eu não digo que é uma frustração. A minha decisão explicita as razões pelas quais me parece que, no tribunal do júri, como diz a lei e como vem dizendo o STF, deflagra-se a execução da sentença. Agora, há pontos de vista contrários e, como juiz, eu não tenho outra alternativa a não ser respeitar”, dsse o juiz Orlando Faccini Neto.

O incêndio na madrugada de 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, deixou 242 pessoas mortas e outras 636 feridas. As vítimas, em sua maioria, eram jovens estudantes com idades entre 17 e 30 anos, moradores da cidade universitária.

A tragédia é a maior ocorrência em número de vítimas na história do Rio Grande do Sul e a segunda do Brasil, atrás apenas do incêndio do Gran Circo Norte Americano, em Niterói (RJ), que deixou 503 mortos em 1961.

“Os jurados são muito inteligentes, os jurados sabem o que fazem. Eu tinha certeza que a sociedade ia decidir dessa forma, porque a sociedade sabe o que faz”, diz a promotora Lúcia Helena Callegari após a decisão.

Mais informações na programação da Rádio Cultura AM 930

Via Portal G1

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