Com as cirurgias eletivas adiadas por causa da pandemia do novo coronavírus e a baixa procura por tratamentos, os hospitais particulares relatam riscos de fechamento por falta de caixa. As despesas com internamento de pacientes com a Covid-19 e a alta nos custos de materiais também colocaram em xeque a saúde financeira dos estabelecimentos.
“A partir do mês que vem, o fluxo financeiro dos hospitais entra em colapso. Teremos uma queda de aproximadamente 50% da receita, enquanto que a despesa se mantém. Um hospital tem mais ou menos cerca 70% de custos fixos”, explica Flaviano Ventorim, presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná e do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná.
O hospital Nossa Senhora das Graças, de Curitiba (PR), onde Ventorim trabalha, teve prejuízo de R$ 2,6 milhões em abril. A estimativa para maio varia entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões.
Isso ocorre porque, logo no início da pandemia no Brasil, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) orientou hospitais a suspenderem e adiarem consultas, exames e cirurgias não urgentes para evitar sobrecarga do sistema e liberar leitos para pacientes da Covid-19.
A partir de então, as clínicas passaram a realizar apenas procedimentos de emergência ou mais graves. As cirurgias eletivas, contudo, representam a maior receita e margem de lucro entre todos os procedimentos hospitalares, o que dilui os custos fixos.
Diretor-executivo da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Bruno Sobral destaca que o setor já vinha em crise há pelo menos dez anos, e ao menos 34 mil leitos foram desativados nesse período, principalmente na rede filantrópica. Com a pandemia, a situação se agravou.
Ele aponta que, apesar de o vírus ter causado o colapso da rede pública em muitas cidades, em outros municípios, principalmente no interior, a rede privada permanece ociosa. “O hospital que não atende [pacientes com Covid-19] está parado ou por decisão das pessoas ou da ANS”.
Representando 4.200 estabelecimentos em 16 estados, a Federação Brasileira dos Hospitais (FBH) calcula que 70% deles são de pequeno e médio porte, a maioria sem verba para se manter. “Estamos preocupados, entre o final deste mês até metade do mês que vem vários vão fechar as portas, pois não têm capital de giro”, diz o presidente Francisco Morato.
O fechamento iminente também pode prejudicar os pacientes que dependem do SUS. Só os hospitais filiados à FBH respondem por 62% dos atendimentos públicos.